Educação

08/02/2016 Colégio público da zona rural entra para mapa da inovação

“Quando a vi, fiquei alegre e repeti para ela o que Fernando Pessoa havia dito para uma mulher amada: ‘Quando te vi, amei-te já muito antes’”. Assim, em seu livro “A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir”, o escritor e pedagogo mineiro Rubem Alves descreveu a Escola da Ponte, instituição de ensino democrática criada na década de 1970 em Portugal. Mais de 40 anos depois, o jeito fora dos padrões convencionais de ensinar tem agradado na zona rural de Tiradentes, na região do Campo das Vertentes, onde a Escola Municipal João Pio conseguiu, apenas três anos após sua inauguração, ser selecionada para integrar o Mapa de Inovação e Criatividade, lançado no fim de 2015 pelo Ministério da Educação (MEC).

No modelo, as decisões são todas tomadas em equipe, por meio de assembleias semanais. A diretora Magda Fróis explica que não há salas nem reprovação. O planejamento é focado em cada indivíduo, o que, segundo ela, é o grande diferencial da unidade. O aluno escolhe o que é de seu interesse, em uma reunião com os tutores. A partir desse assunto, que pode ser desde o currículo convencional até “diferentes folhas de frutas”, por exemplo, é elaborado um plano de estudos. “Isso é feito sempre observando os vários conteúdos relacionados ao tópico. E sempre respeitando a faixa etária”, explica Magda, que, assim como o criador da escola portuguesa, professor José Pacheco, prefere não ser denominada pelo cargo.

Quando o tema se esgota, é proposto aos alunos que avaliem o aprendizado, as dúvidas que restaram e o que pretendem aprender futuramente, elegendo um novo projeto gerador de conteúdo.

A instituição atende crianças de 4 a 10 anos – o equivalente ao período da educação infantil e ao quinto ano. Os alunos ficam em tempo integral na escola (das 7h às 16h) e recebem cinco refeições por dia. Eles contam com uma horta e uma nutricionista para cuidar do cardápio. “O modelo tem funcionado tão bem que houve um aumento na procura. Em 2015, eram 40 alunos, e, neste ano, já temos 65 matrículas, muitas transferências de escolas tradicionais”, comemora Magda.

Sem separações por séries, a escola promove uma troca do conhecimento entre crianças de várias idades. Há, também, oficinas de pais e voluntários, como capoeira, xadrez e teatro. “Apesar da diferença, se o aluno precisar se transferir, vai se adaptar facilmente, pois ensinamos todo o necessário, só mudamos a forma”, argumenta a diretora.

O mapa. O Mapa de Inovação e Criatividade foi criado para identificar iniciativas inovadoras e criativas na educação básica, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação brasileira. Para isso, foi formada uma comissão avaliadora, que partiu de cinco dimensões preestabelecidas para julgar as 683 organizações de todo o país inscritas na chamada. Desse total, foram eleitas 178 que se encaixavam nos parâmetros buscados. Delas, 52,8% são instituições públicas e 47,2%, particulares.

A maior parte das escolas (77,5%) já trabalha com ações inovadoras há algum tempo, enquanto outras 40 apresentaram planos de ação a serem adotados. O mapa interativo, com todas as escolas selecionadas, pode ser acessado em criatividade.mec.gov.br.

Minas Gerais

Participação. O Estado teve 22 unidades de ensino no mapa do MEC, oito delas públicas. Dessas, seis estão em Belo Horizonte, sendo três particulares, duas municipais e uma associação civil.

Escolas da periferia dão exemplo

Duas escolas municipais de bairros periféricos de Belo Horizonte entraram no mapeamento do MEC: a Anne Frank, no bairro Confisco, na região da Pampulha, e a Professor Paulo Freire, no Ribeiro de Abreu, Nordeste da capital. De acordo com o ministério, elas foram escolhidas por medidas de democratização das relações interpessoais, estimulando ações de protagonismo dos estudantes (com projetos como o vereadores mirins), além de oficinas. A escola da região Nordeste, por exemplo, valoriza o diálogo e o uso de assembleias para tomar decisões da instituição.

A Secretaria Municipal de Educação informou que investirá em medidas inovadoras semelhantes aquelas adotadas pelos eleitos no mapeamento do MEC, mas detalhes específicos, segundo o município, ainda não podiam ser repassados.

Estado. Apesar de nenhuma escola estadual mineira ter sido selecionada na Chamada Pública do MEC, a Secretaria de Estado de Educação afirmou que em 2016 investirá R$ 63 milhões para “ações inovadoras” em 2.945 escolas (80,6% do total).

Em outubro passado, a pasta convidou as unidades a apresentarem projetos pedagógicos que promovessem a formação integral dos estudantes e transformassem o ambiente escolar. Serão financiados 3.160 projetos voltados para os ensinos fundamental e médio.

 

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